Meia Maratona da Frustração


Só estou a escrever isto porque a Agri, no post dela, disse “ela há-de escrever o relato dela, por isso, não me vou alongar com dores que não são minhas”.

A frustração é tanta que na verdade não tinha vontade de escrever nada. Tinha vontade sim de esquecer aquelas duas horas, 31 minutos e 22 segundos. Sim, mais sensivelmente 4min do que na minha anterior Meia Maratona. E mais sensivelmente 3min do que fiz num treino da mesma distância há umas semanas. Portanto, o pior tempo de sempre em 21,1km.

Voltando um pouco atrás, mais precisamente há duas semanas atrás, a Inês convidou-me (e desafiou-me) para me juntar à equipa dela no Troféu das Localidades em Oeiras. Aceitei o desafio para juntar à corrida o espírito do convívio e, apesar de serem provas curtas, serviria sempre como mais um treino. A minha estreia seria no Domingo e, no sábado, fomos fazer um treino de 14km que até correu bem, dentro do normal para ritmo de lontra. Alongámos no final e nem ponta de dores. Não me perguntem porquê mas no Domingo acordei com uma dorzita no joelho. Nem a relacionei à corrida, achei que devia ter dormido numa má posição que criou ali um ligeiro desconforto. Porém (parece que isto na vida de corredores são só conjunções adversativas), uns metros depois de começar prova  percebi que aquilo era mais do que um desconforto. A prova é curta mas com muita inclinação. Ora me doía a subir, ora me doía a descer. Ao ponto de não querer forçar e ir a travar na descida sem desfrutar desse momento. Fiz gelo e massagem com Voltarem e, apesar de ao subir escadas sentir uma espécie de um estalinho na parte de trás do joelho, deixei de ter dores. Voltei a correr e estava tudo ok. “Foi só um susto”, pensei.

Até ontem. Até esse susto me ter tirado a alegria de correr. E se correr devagar me deixa alegre na mesma, correr ainda mais devagar por causa de dores que não deviam existir deixa-me frustrada. A partir do momento em que obriguei a Agri a ir à vida dela e não se atrasar por mim, passei os restantes 11km a pensar naquela Maratona que está a 8 semanas de distância. E pensava nas dores e no que fazer com elas. Não posso parar, não posso simplesmente ir ao médico, fazer exames, obter um diagnóstico e um tratamento porque não tenho tempo! Preciso de treinar! Foram 11km a tentar convencer-me que o importante era a dor não aumentar (o que felizmente não aconteceu) e a convencer-me igualmente que chegaria ao final daquela prova, independentemente do tempo. Nunca pensei em desistir mas o quilómetro 18 e 19 foram muito dolorosos, não tanto física (também!) mas psicologicamente. Foi quando tive a certeza que ia terminar mas não era o treino que queria ter feito e não era o treino que precisava de ter feito.

Tinha muito para vos contar porque 21km têm, como sabem, muitas peripécias, até para quem corre com dores. Como ter tirado a tampa da garrafa para a guardar e dar à Agri e quando dei por mim tinha atirado a tampa e ficado com a garrafa vazia na mão (desculpa Inês!). Como ter feito um mini sprint para chegar junto de um corredor que ia com música em alta voz (na tentativa de perceber que música era) e quando lá cheguei percebi que não era dele mas de alguém parado na estrada a ver passar. Como, na tentativa de não dar trabalho à organização, ter atirado a garrafa para o caixote mas a força e talento é tanta que bateu na borda, voou para o chão e ainda molhei a voluntária… Enfim! Memórias que estão submersas por este sentimento de desilusão que me acompanha desde então, ainda que tenha feito um esforço por sorrir para as fotos, até porque a Inês merece o meu sorriso e o meu agradecimento pelo muito que tem feito por mim. Tomara eu conseguir fazer metade por ela.



O resultado hoje é o joelho um pouco inchado e com um pequeno hematoma (que creio ser de excesso de gelo porque às vezes distraio-me e fico com ele tempo a mais) e algumas dores ao andar. Vou continuar o tratamento e rezar para que isto não seja nada. Porque isto não pode ser nada. Não agora.

Talvez mais tarde passe por cá a reler isto e o sentimento seja diferente. Para já esta é sem dúvida a Meia Maratona da Frustração.

Comentários

  1. Agora vou falar de dores que não são minhas.... o André teve uma situação de possível lesão 2 semanas antes da maratona de Genebra. Não andou a "perder tempo" com médicos, exames, diagnósticos... Foi directamente a um gabinete de fisioterapia que sabíamos que trabalha em parceria com um PT. Por isso, se conheces um bom fisioterapeuta ou se tens referencias de algum, eu diria para não hesitares!
    É um penso rápido... mas eu diria que fazer a maratona em sofrimento não é opção!

    ResponderEliminar
  2. Há sempre a opção de ver o copo meio cheio ou meio vazio.
    Que tal, em vez de frustração, valorizares a resiliência que deste mostras ao terminar uma Meia com esse problema?
    Porquê negativar com 2.31.22 quando podes orgulhar em dizer "apesar de lesionada e com dores, consegui 2.31.22?" (curiosamente 7 segundos mais rápida que a minha 1ª Meia em 2007 :) )
    Agora a grande prioridade tem que ser curares esse problema para no dia 28 de Abril não caberes em ti de tanta felicidade e orgulho.
    Muita força! Tu vais ser muito feliz em Aveiro!

    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O João já disse tudo. Eu acrescentaria que esse problema tem que ser visto e aí entra a opinião da Sofia mais acima. Um bom fisioterapeuta consegue ver se o que tens dá para continuar a correr, para dar um jeito … se por acaso achar que não, que é melhor parar então é mesmo para parar. Falo por experiência própria, de uma teimosia que me levou a estar muito tempo parado com mais de ano e meio de regressos intermitentes. Não há-de ser o teu caso … dois ou três tratamentos e estás pronta para regressar em força. 8 semana ainda é muito tempo, e essa meia maratona que fizeste mostra que tens fibra de Maratonista.
      Toca a tratar desse joelho mas é :)
      … boa recuperação e depois bons treinos :)

      Eliminar
  3. Não há maus treinos para a maratona, os que correm pior são tão importantes como os outros. Força, 8 semanas dá bem tempo para voltares a recuperar o ânimo!

    ResponderEliminar
  4. Já passaram uns dias e tenho a certeza de que se vieres reler este texto, o sentimento será diferente.

    Como já tão bem disseram, esta foi a tua Meia Maratona da Resiliência. Podias ter desistido. Eu quase quis insistir contigo para que o fizesses. Mas não o fizeste (tal como eu não o faria...), porque tens em ti a força, a resiliência e a vontade que é preciso para chegar ao fim. Não fizeste o treino que querias, mas treinaste a tua mente para o dia M. Porque no dia M também é possível que te sintas frustrada, que te custe, que te passe tudo pela cabeça. Mas tu vais fazer o mesmo que fizeste domingo: vais erguer a cabeça e continuar a correr até atravessar aquela meta. Não tenho dúvidas.

    ResponderEliminar
  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  6. Já conseguiste algo que eu nunca consegui: inscrever, participar e concluir uma meia maratona.
    Deves sentir-te orgulhosa por isso. Desejo-te uma ótima recuperação!

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

#3 A recuperar...

#54 - o número que destroçou a minha alma...

A minha primeira maratona foi PERFEITA!