O pós-lesão


Como podem ver pela foto foi um belo final de tarde aquele que escolhi para retomar os treinos. 

Depois de me conscientizar da necessidade de procurar um especialista para perceber a minha lesão, aproveitei a consulta de medicina no trabalho que estava programada e expliquei o que se passava. A médica suspeitou de uma tendinite na anca pelo que, para começar (achava eu e depois vão perceber porquê), faria anti-inflamatórios durante 8/10 dias e pausa total nas corridas. Depois retomaria com uma corrida muito leve que pararia ao mínimo sinal de dor.

Esta pausa total custou-me, confesso. Não é fácil de explicar como é que sentia falta da corrida depois de tantos anos no sofá e, pelo contrário, nunca senti falta do sofá durante tão poucos meses de corrida. 

Segui escrupulosamente as instruções e horários da medicação assim como o descanso necessário. Queria mesmo ultrapassar esta situação o quanto antes até porque, para uma amadora como eu, 8/10 dias sem treinar causariam mossa no que diz respeito à (pouca) resistência acumulada. Portanto, que fossem 'só' 10 dias. Seria também um teste à minha persistência. Voltar não é fácil, fácil mesmo é arranjar desculpas para resistir ao que sabemos ser o melhor. Neste aspeto a nossa mente é muito traiçoeira, temos de aprender a contrariá-la. Se pensarmos bem só custa sair, depois de iniciar o treino só pensamos «qual era a dúvida que era isto que querias estar a fazer?». Resistimos a ir mas quando vamos já só nos custa voltar.

Exatamente 10 dias depois da Corrida Saúde + Solidária voltei aos treinos com uns colegas de trabalho. Fomos para a marginal e começámos em Algés. O M. acompanhou-me mais uma vez e fomos sempre bem devagarinho para garantir que não sobrecarregava a anca. A verdade é que 3km depois voltei a sentir o mesmo desconforto que, caso continue, se intensifica até atingir o estado de dor aguda que me impede de andar corretamente. Suspeitei que fosse apenas o meu subconsciente alerta ou o medo de não estar recuperada por isso disse ao M. que andaríamos e, se conseguisse, voltaríamos a correr. 

Andámos durante sensivelmente 2km (durante este tempo parei o meu TomTom) e foi um tempo de qualidade já que conseguimos pôr a conversa em dia. Isto porque enquanto corremos eu estou demasiado ofegante para responder mais do que "sim" ou "hum hum", eventualmente posso esboçar uma pergunta como "e depois?" ou "conseguiste?". Todo o restante diálogo é da exclusiva responsabilidade do M.

Corremos sensivelmente mais 2k a uma velocidade muito soft só porque precisava mesmo de matar saudades. 

A parte em que estou 'a nadar' diz respeito à pausa do TomTom

Terminei a corrida muito desiludida, percebi que a minha lesão não se tratava apenas com anti-inflamatórios. Depois deste treino fiquei desmotivada e não voltei a correr por um bom tempo (mais que os 10 dias de tratamento iniciais). Por um lado não queria acentuar a lesão, qualquer que ela fosse, por outro desconfiava seriamente que não tinha nascido para correr. Ainda assim resolvi perceber qual o problema já que não queria ser coxa sempre que precisasse de recorrer à corrida (para fugir de um possível predador que eventualmente me pudesse perseguir a meio da noite). Lá no fundo tinha esperança de retomar, e era uma esperança genuína. Depois de um Raio-X à anca voltei à médica da medicina no trabalho que me deu a seguinte resposta (preparem os vossos queixos porque é possível que eles caiam):

"- Pois, a radiografia não detetou nada de anormal. Talvez o seu corpo não aceite a corrida, sugiro que mude de desporto."

«Are you f***ing kidding me?»

Não é suposto um médico percorrer todas as alternativas para recuperar o estilo de vida do paciente antes de simplesmente optar pelo caminho mais fácil e rápido que o impede de fazer algo que gosta e que, pasmem-se, até lhe faz bem à saúde?! 

Agora vem a parte estúpida que por vezes me acontece (espero que desse lado exista alguém que se identifique para que não esteja sozinha no mundo) que passa por sentir um calor tão forte no rosto, juntamente com palpitações e sensações de raiva que me deviam ter impulsionado a responder à médica algo como "Não é suposto um médico percorrer todas as alternativas para recuperar o estilo de vida do paciente antes de simplesmente optar pelo caminho mais fácil e rápido que o impede de fazer algo que gosta e que, pasmem-se, até lhe faz bem à saúde?!" e cuja resposta saída da minha boca foi (preparem-se!): . 

Isso mesmo, absolutamente nada!! Quando saí do consultório, cabisbaixa, só pensava como esta minha atitude tinha sido deveras parva e incompreensível e que devia voltar para trás e responder-lhe à letra, obrigá-la a fazer alguma coisa. Segui em frente, conformada. 

Pior do que tudo isto foi pensar que já estava inscrita na Meia Maratona do Porto e que, por este andar, não conseguiria realizar a prova.

Calma meus amigos, eu (às vezes) sou fraca mas não sou assim tão fraca! :D 
Bateu-me forte mas passou-me depressa. Se aquela médica ía desistir de mim, eu não faria o mesmo! Não recorri a nenhum médico particular nem especialista, optei por falar com a minha médica de família que muito admiro. É uma mulher dos seus 30 e poucos anos (portanto somos quase da mesma idade), antes de se licenciar em medicina licenciou-se em psicologia e, a melhor parte, é uma ferverosa adepta de corrida e ciclismo. Se haveria alguém que compreenderia a minha posição era ela. Era e foi. Assim que lhe expliquei o que se estava a passar receitou-me todos os exames necessários para percebermos a origem do problema e, depois, encontrar um tratamento adequado:

» Radiografia à bacia
» Ecografia às partes moles da anca
» Radiografia extra longa que permitia medir o tamanho da tíbia e fémur e detetar alguma descompensação

A confiança com que a médica falou incrementou de imediato a minha motivação. Ela não falou em 'ses' no que toca à recuperação. Os únicos 'ses' que utilizou foram quanto às alternativas de tratamento que poderiam diferir de acordo com a origem da lesão. Melhor ainda, disse-me para não parar de correr! 

«Oi? Não preciso de parar?!»

Aconselhou-me a fazer treinos mais curtos e mais lentos, onde me sentisse sempre confortável. Não abusar até chegar ao ponto de sentir dor mas continuar. Não imaginam a alegria! Ou melhor, até imaginam! ;) Fiquei tão feliz que até fiz um bom 'treino de regresso':

Quando digo bom refiro-me, obviamente, à distância de um treino pós-lesão sem perceção de dor ;)

Foi a 30 de Maio, véspera do meu aniversário. A chamada prenda antecipada!

Outra coisa que me foi sugerida pela médica e por alguns dos meus parceiros de corrida são os alongamentos. Convenhamos que alongar a anca não é tarefa fácil. Experimentei uma série de contorcionismos, qual animadora de circo, até perceber aqueles que atingiam diretamente o centro da dor. Alongava todos os dias e ainda hoje o faço, por vezes também no decorrer dos treinos longos, quando o impacto é demasiado prolongado. Aproveito os semáforos em que sou obrigada a parar caso pretenda continuar viva e lá estou eu, com a perna esquerda por trás da direita, de rabo para o ar com as mãos a tocar o pé esquerdo. Bonita imagem hum? Imagens à parte tem ajudado imenso! Tanto que até já fiz bons treinos longos como este:


A parte que mais gosto é saber que neste treino fiz mais de metade de uma Meia Maratona

Já recebi o resultados dos exames e confirma-se que a minha perna esquerda é 0.55cm mais curta que a direita, o que possivelmente está na origem de um edema e uma tendinite na anca que ainda existem. Agora é estudar formas de tratamento mas com esperança que, a 17 de Setembro, possa estar a realizar a minha primeira Meia Maratona. 

Falta saber se a consigo acabar... 

Comentários

  1. Estás a ir no caminho certo. A minha colega de blog (a Fiona) teve algo semelhante há uns anos, na banda hisquio-tibial. Uma das coisas que resultou com ela, a nível preventivo, foi o rolo de auto-massagem.

    Mas mais do que os exercícios preventivos, o prioritário, quanto a mim, é dar com uma solução que elimine as queixas. Isto pode passar por palmilhas correctivas ou algo do género. Com um especialista da área (como o pessoal do GFD ou outros que te possam recomendar) ficas em boas mãos.

    Os médicos não ligados ao desporto são muito cépticos em relação à actividade física. É mais uma questão de não quererem arriscar que o quadro se agrave e também porque havendo a febre da corrida, o pessoal mal tenha carta branca para correr, atira-se logo para um longão entre Caminha e Tavira, só para compensar :p

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    1. Eu sou de Caminha!!! Ah que saudades da minha terra!

      Rolo de auto-massagem? Nunca ouvi falar mas entretanto já li o post da Fiona sobre isso, muito útil!

      Estou a tentar encontrar soluções, a médica falou-me em fisioterapia específica mas ainda não discutimos este assunto desde que soube o resultado dos exames. Para já, e até encontrarmos um tratamento, vou-me socorrendo dos alongamentos que muito têm ajudado. Tenho algum receio de usar palmilhas porque não queria "forçar" o meu corpo a uma solução "alheia" a ele (não sei se me faço entender mas falta-me a palavra).

      Anyway, vamos ver como vou evoluindo ;)

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  2. Abençoada médica! Ainda bem que ela não desistiu de ti e não te disse para te dedicares à costura ;)

    Espero que com o tempo isso melhore mesmo e que, a pouco e pouco, consigas voltar a treinar. Nem que seja com treinos mais curtos, para evitares a sobrecarga.

    O rolo de auto-massagem é mesmo um grande amigo e no youtube há infinitos vídeos de alongamentos (arranjas muitos de 15/20 minutos, que se fazem bem depois do treino).

    As melhoras e bons treinos :)

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  3. Parar é horrível! Sempre que me aconteceu passei esses dias com uma neura...
    Não estás sozinha no mundo, eu também não teria argumentado com essa médica e teria desistido dela. Felizmente tens uma segunda opinião muito mais favorável.

    Com calma e confiança vais conseguir acabar a Meia do Porto e já sei como vai ser. Em vez de teres uma lebre como os prós, tens um predador atrás de ti e passas aquela meta nem que seja às duas da manhã! :D

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    1. Ahahahahahahahahah vou fazer a meia a imaginar um predador atrás de mim! Já tinha delineado algumas estratégias para me auto motivar mas essa é, sem dúvida, a melhor!

      Eu espero fazer em 2:30h e estou a ser otimista. Não acho que seja capaz de melhor a não ser que tudo corra MUITO MUITO MUITO bem. Só espero que não esteja muito calor... Uns pingos de chuva também se aceitam! :)

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  4. Olá Fabiana!

    Há dois tipos de médicos: Os que têm conhecimentos de desporto e os que não têm. Os que não têm, a primeira bola a sair do saco é parar!

    Meses depois de ter partido o pé esquerdo, e como andei a forçar a perna direita, tive um problema nesse joelho. Fiz uma ressonância magnética e uma médica ao vê-la disse-me "Esqueça as corridas! Quanto muito faça caminhadas".
    Saí de lá incrédulo mas passado o choque pensei "Ainda hei-de fazer uma Maratona!"

    Fui a um médico ligado à área desportiva que confirmou que estava com problemas nas cartilagens do joelho mas... o que era o melhor para elas se refazerem era a corrida!!!

    Estávamos em 2009, já corri muitos milhares de quilómetros desde então e esse problema nunca mais apareceu...

    Isto só para exemplificar os cuidados que se deve ter com opiniões de quem não está dentro do assunto. Nada como ouvirmos quem se especializou na área :)

    Força para a Meia do Porto e bons treinos!!!
    (na foto vejo-te no Passeio Marítimo de Caxias-Cruz Quebrada, provavelmente já lá nos cruzámos)

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    1. Pois é, João. Para isso é que existem especialistas, faz todo o sentido. A visão e estratégia são totalmente diferentes. Vou começar a fazer fisioterapia à anca para curar definitivamente a tendinite mas, para ser sincera, já mal a sinto. Ontem, em Sintra, nem pensei nisso! :D

      Obrigada, faltam menos de dois meses e já começo a ficar nervosa!

      Ahahahah se achar que me estou a cruzar contigo por lá vou gritar, não te assustes ;)

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